segunda-feira, 23 de março de 2009

Capítulo 01 - A morte de Leleco


Por Rodrigo Capella*

Floripa é sempre uma cidade calma, calma até demais. Com pitadas de interior e boa qualidade de vida, parece resistir aos progressos e à globalização. Essa é a sensação mais comum que se tem ao retornar à ilha ou ao visitá-la pela primeira vez. Tudo – ou quase tudo – parece parar no tempo. E isso é realmente muito bom: belas mulheres, paissgens únicas, linda praias e tudo muito perto. Por que mudar quando se tem tudo?
A pergunta já é uma resposta, simples, mas interrompe qualquer objeção. Até porque a coisa não é tão parada assim: para deleite, a cidade tem uma coisa agitada: lá a bola realmente rola e é disputada. Mas, isso só ocorre mesmo quando os dois principais times da cidade (Avaí e Figueirense) protagonizam jogos decisivos – para ser mais exato: em final de Campeonato Catarinense.
Quem não se lembra as vezes em que isto ocorreu? Foram várias, com resultados mais diveros e inesplicáveis. E hoje as diversas camisas e bandeiras azuis, brancas e pretas denunciavam: a rivalidade iria decidir mais um campeonato. No primeiro jogo, deu empate. Quem vencesse este, se consagraria Campeão Catarinense de 2020.
Os dois times estavam completos e a torcida acompanharia os principais craques deste ano. Os atacantes Leleco e Thomas, do Avaí, e os zagueiros Idelbrand e Maicom, do Figueira. Imperdível!Na véspera do clássico, o técnico do Figueira, Edmundo Tavares, destacou: “precisamos parar Leleco. Quero dois jogadores na marcação dele. Façam qualquer coisa para parar este jogador. Caso contrário, perderemos o jogo. Estou avisando”.
Agora, dentro do ônibus a caminho da Resacada, Tavares relembrou: “vamos com força. Parem Leleco. Façam qualquer coisa, mas ele não pode fazer gols. No último jogo, demos sorte com o empate. Mas, agora é no campo dos caras”.O veículo estaciona, perto do vestiário, e os jogares do Figueira entram na Resacada. Poucos minutos depois, é a vez do Avaí levar seus jogadores ao Estádio. Como o time havia treinado um dia antes, não havia motivos para chegar mais cedo.
No aquecimento, Nonato Neves, técnico do Avaí, repassava algumas jogadas ensaiadas: “Matheus, se pocisione à esquerda e toque rapidamente para o Marcilio, que conduzirá até o meio da área e tocará para o Leleco abrir o placar. Precisamos desta jogada o mais rápido possível”.
Antes dos jogadores iniciarem a tradicional oração, Neves pontuou: “Fiquem de olho no Leleco, não deixem que ele sofrer uma entrada dura ou qualquer outro tipo de coisa durante o jogo. Conto com vocês. Vamos lá time!!!”.
Poucos minutos depois, Avaí e Figueira entram em campo. Após a tradicional foto, com todos os jogadores e cartolas do time, as equipes iniciam o trabalho com bola. Leleco está motivado, como nunca. Contratado junto ao Marcílio Dias, pequeno time do Estado, o atacante tinha como objetivo chegar à Seleção Brasileira. Parecia muito, mas o jovem tinha realmente talento e muito potencial. Defender o time canarinho era, portanto, questão de tempo.
O apito inicia a partida e a bola, rapidamente, é lançada, conforme Neves pedira, para a estrela do jogo, Leleco. Com muita habilidade, dibla o goleiro e...... ouve um barulho, algo muito próximo e estranho. Rapidamente, coloca a mão no peito, vê sangue e desmaia dentro do gol adversário. A bola não chega a entrar.
Mas, afinal, o que aconteceu? A grande revelação do Avai acabara de levar um tiro direto no coração, sem chance de suspiros e de vida. Por que matariam Leleco? Quem realmente iria lucrar com a morte deste notável jogador?
(CONTINUA NO PRÓXIMO CAPÍTULO)

(*) Rodrigo Capella é escritor, poeta e palestrante. Autor de vários livros, entre eles "Transroca, o navio proibido", que está sendo adaptado para o cinema pelo diretor Ricardo Zimmer. Mais infos: www.rodrigocapella.com.br

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